terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ética em Kant



Immanuel Kant desenvolve a filosofia moral em três obras: Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), Crítica da Razão Prática (1788) e Crítica do Julgamento (1790).

Kant em  “Crítica da Razão Pura” separa a ciência da ação. O conhecimento se constrói a partir do fenômeno que alia a intuição sensível ao conceito do intelecto.
Portanto, o uso da razão pura não tem utilidade teórica em Kant, mas apenas o seu uso prático, donde o seu livro “Crítica da Razão Prática”.

Assim como a primeira Crítica estabeleceu criticamente os princípios sintéticos a priori da razão teórica, a Fundamentação da Metafísica dos Costumes(1785) estabelece criticamente os princípios sintéticos a priori da razão prática.

Na moral, o ponto de partida de Kant é o de que o único bem irrestrito é uma vontade boa. Talento, carácter, autodomínio e fortuna podem ser usados para alcançar maus fins; até mesmo a felicidade pode corromper. O que constitui o bem de uma vontade boa não é o que esta alcança; a vontade boa é um bem em si e por si.



O IMPERATIVO CATEGÓRICO

O famoso axioma de Kant é claro em sua definição.
"Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal".

O IMPERATIVO CATEGÓRICO, EM TERMOS GERAIS, É UMA OBRIGAÇÃO INCONDICIONAL, OU UMA OBRIGAÇÃO QUE TEMOS INDEPENDENTEMENTE DA NOSSA VONTADE OU DESEJOS

As nossas obrigações morais podem ser resultantes do imperativo categórico. O imperativo categórico pode ser formulado em três formas, que ele acreditava serem mais ou menos equivalentes .

§ A primeira formulação (a fórmula da lei universal) diz: "Age somente em concordância com aquela máxima através da qual tu possas ao mesmo tempo querer que ela venha a se tornar uma lei universal".

§ A segunda fórmula (a fórmula da humanidade) diz: "Age por forma a que uses a humanidade, quer na tua pessoa como de qualquer outra, sempre ao mesmo tempo como fim, nunca meramente como meio".

§ A segunda fórmula  Legislador Universal "Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas." 



Fundamentação da Metafísica dos Costumes

Na obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant divide os três capítulos de acordo com o método utilizado.  
A Primeira Seção – Transição do conhecimento racional comum para o conhecimento filosófico – tem como objeto o conhecimento moral comum, isto é, o conceito de dever.
 A Segunda Seção -Transição da filosofia moral popular à metafísica dos costumes- retraça o conceito de dever em seu fundamento a priori. Apesar das duas seções abarcarem o mesmo conceito, há uma diferença entre ambas devido ao percurso argumentativo.

No Prefácio da Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant lança algumas indicações que se referem aos procedimentos de análise utilizados na obra.

A primeira indicação diz do ponto de partida de sua investigação, que é o conhecimento moral comum – identificado ao conceito de dever.

A segunda indicação diz do objetivo geral da obra, que é buscar e estabelecer o princípio supremo da moralidade.
A terceira indicação diz do método seguido pelo autor: ascender analiticamente do conhecimento moral comum ao seu princípio, para depois voltar sinteticamente do princípio supremo da moralidade ao conhecimento comum.
A quarta indicação é a divisão da obra – obtida através da aplicação desse método.


O conhecimento racional comum é tomado como o ponto de partida da filosofia moral. Este conhecimento racional comum pode ser identificado ao “conceito dado” – isto é, uma compreensão pré-filosófica – de moralidade.   Presume-se, pois, que deva haver algo em comum entre esses diferentes códigos morais para que todas as concepções possam ser tomadas como concepções morais. Por isso Kant visa determinar qual é o significado básico do predicado “moral”. No Prefácio, “conhecimento moral comum” e a “ideia comum do dever e das leis morais” são identificados.

A segunda indicação acerca do procedimento realizado por Kant é a caracterização do objetivo da obra como buscar e estabelecer o princípio supremo da moralidade. Este princípio pode ser denominado “supremo” por regular o uso do conceito de moralidade em geral. Assim, o princípio se sobrepõe aos princípios morais particulares.  

A terceira indicação que Kant fornece acerca do procedimento realizado é sobre o método seguido na obra: “o método consiste em ascender analiticamente do conhecimento moral comum (que se exprime nos juízos morais particulares) ao seu princípio (portanto ao princípio dos juízos morais comuns), para retornar em seguida sinteticamente desse princípio ao conhecimento moral comum (isto é, aos juízos morais que se pautam por esse princípio)”
 Kant utiliza-se de dois métodos: o método analítico – procede de modo regressivo por ir do conhecimento moral comum até a determinação do princípio desse saber – e o método sintético – o qual parte do saber filosófico para aplicar o princípio aos casos particulares. Deve-se ter em mente que o método analítico é utilizado nas duas primeiras seções da obra, enquanto o método sintético é utilizado na última seção.
No caso do método analítico, como aquele que parte do que é procurado como se fosse dado e que ascende de modo que alcança as condições sob as quais o que é procurado se faz possível, supõe-se que a existência dos juízos sintéticos a priori é dada. As condições que possibilitam esses juízos – até as quais se ascende de modo regressivo – são: a forma espaço-temporal das intuições sensíveis e a forma categorial dos conceitos dos objetos em geral.
O método sintético é de suma importância para o método analítico, já que para que este seja considerado um método que prova a possibilidade do juízo sintético a priori – o que se busca – faz-se necessário que as condições já tenham sido estabelecidas. Estas condições só são estabelecidas através do método sintético – ou progressivo.
Fica mais clara a aplicação de ambos os métodos na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, pois nela supõe-se como dado a possibilidade de se fazer juízos morais de acordo com o conhecimento moral comum. Ao partir dos juízos morais que são pensados de acordo com a compreensão comum do conceito de moralidade, pode-se ascender (se a análise for correta) ao princípio que embasa esses juízos morais.


Divisão da obra

Quanto à divisão da obra, Kant afirma que é resultado da aplicação de seu método analítico-sintético. A aplicação do método sintético faz-se necessária para estabelecer o princípio supremo dos juízos comuns e este é o objetivo principal da obra. Todavia, esse objetivo requer um exame crítico e uma prova da validade deste princípio. A aplicação deste método sintético centra-se mais na Terceira Seção da obra, na qual se dá a passagem para a crítica da razão pura prática.

Todavia, antes de aplicar o método sintético para chegar à dedução do princípio fundamental dos juízos morais, Kant desdobra sua exposição do conceito dado de moralidade em duas partes: a primeira parte visa explicar conceitualmente o princípio que está subjacente à aplicação do conceito de moralidade embasando-se na compreensão pré-filosófica deste conceito; a segunda parte é composta pelas respostas às oposições filosóficas possíveis quanto à análise feita. Isto aponta para mais uma diferença entre a Primeira e Segunda Seções.
O título da Segunda Seção Transição da filosofia popular à metafísica moral, diz da filosofia popular como exemplos das objeções que outros filósofos poderiam fazer à análise de Kant acerca do conceito dado de moralidade. Essas oposições associam-se à noção da natureza da vontade humana como dependente de estímulos sensíveis, a qual é contrária ao princípio prático puro kantiano afirmado como subjacente aos juízos morais comuns.

Como ponto de partida dessa retomada são objeções levantadas por contemporâneos de Kant, representantes da chamada “filosofia popular”, e como ela resulta numa exposição que se pode chamar de metafísica, do princípio a priori que subjaz aos juízos morais em geral, é compreensível que Kant tenha caracterizado a segunda parte da Fundamentação como uma transição da “filosofia popular” à “metafísica moral”

Como já foi exposto, o ponto de partida da argumentação kantiana é o conhecimento moral comum – que pode ser identificado à compreensão do conceito dado de moralidade. Todavia, como expõe Almeida, o que constitui efetivamente o ponto de partida da Primeira Seção é o conceito de boa vontade – que designa a vontade moralmente boa, irrestritamente boa.

O que é moralmente bom, por sua vez, precisa ser definido como algo que é bom sem depender de qualquer condição subjetiva particular. Esta definição pode ser atribuída a todo sujeito capaz de julgar o que é bom e capaz de fazer a distinção entre o moralmente bom, útil e agradável.
A Primeira Seção abarca a passagem do conhecimento racional comum acerca da moralidade ao conhecimento filosófico. Kant tem como objetivo delimitar o princípio supremo da moralidade através de análise, de modo que fique exposto como esse princípio supremo se apresenta em toda consciência humana.
Destarte, dado que o ponto de partida da Primeira Seção é a suposição de que somente a vontade moralmente boa pode ser considerada irrestritamente boa, Kant visa estabelecer, de modo regressivo, a condição conforme a qual a vontade é moralmente boa, ou seja, o princípio que quando cumprido, assegura a moralidade das ações do homem. Três proposições embasam a derivação desse princípio. Estas proposições são derivadas do conceito do que é moralmente bom e da consideração de que quando a vontade é afetada por inclinações, não se faz suficiente saber que algo é bom para fazer, posto que o que é moralmente bom é considerado como um dever.
A primeira proposição expõe que ter uma boa vontade significa agir por dever, não por inclinação. A segunda proposição afirma que o que confere valor moral à ação é o princípio de agir por dever – agir sem visar as consequências ou os fins- é a intenção. A terceira proposição afirma que o dever é uma ação necessária por respeito à lei moral. Dessas proposições chega-se ao Imperativo Categórico: “agir de tal maneira que eu possa querer que a máxima de minha ação se torne uma lei universal” (KANT, 1962, p. 62).

 A "moralidade, e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade. A destreza e a diligência no trabalho têm um preço venal; a argúcia de espírito, a imaginação viva e as fantasias têm um preço de sentimento; pelo contrário, a lealdade nas promessas, o bem querer fundado em princípios (e não no instinto) têm um valor intrínseco."


Esta é em essência a ética de Kant.


Fonte
www.psicologiamsn.com
www.brasilescola.com
criticanarede.com

afilosofiadaintegracao.blogspot.com.br

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