segunda-feira, 1 de junho de 2015

Breve definição de filosofia


school athensFilosofia é o estudo das questões fundamentais. Em uma frase curta, essa é a melhor definição que encontrei – aquela que considero a mais explicativa empregando a menor quantidade possível de palavras. Estendendo-nos um pouco mais, podemos dizer que filosofia é a dedicação intelectual aos problemas mais conceituais, às perguntas mais profundas, às dúvidas mais inquietantes que afetam nosso pensamento. Mas essa é apenas uma das três maneiras de definir filosofia. Podemos definir filosofia a partir de três perspectivas diferentes: (1) objetivamente, dizendo o que ela estuda – qual é o seu objeto de estudo; (2) etimologicamente, dizendo o que significa o termo “filosofia”; e (3) comparativamente, dizendo que diferença há entre ela e outras expressões do saber humano, como a ciência ou a religião, por exemplo. Vejamos como isso é possível.
A definição dada acima é objetiva, pois diz qual é o objeto de estudo da filosofia – a saber, as questões fundamentais. Tradicionalmente, consideramos questões fundamentais aquelas relacionadas à existência, ao conhecimento, à verdade e aos valores. A partir disso, desenvolveram-se as disciplinas principais da filosofia: ontologia (filosofar sobre a existência); epistemologia (filosofar sobre o conhecimento); lógica (filosofar sobre a verdade); e a chamada filosofia prática (filosofar sobre os valores, sejam eles éticos, estéticos, políticos, etc.). Ontologia (comumente chamada também de metafísica), epistemologia (também chamada de teoria do conhecimento) e lógica constituem a parte teórica da filosofia; enquanto que ética, estética e filosofia política constituem a parte prática. É claro que, além desse tronco principal, a filosofia possui ainda outras disciplinas, como por exemplo a filosofia da mente, da linguagem, da natureza, da ciência, da educação, entre outras.
filosofia-simpsonsPor que existe algo ao invés do nada? Há alguma demonstração ou evidência da existência de Deus? Como tudo começou? Por que razão estamos aqui? Nossas vidas têm algum propósito? Poderá a nossa vida ser apenas um sonho? Nossa mente é de uma natureza diferente do nosso corpo, ou somos seres meramente físicos? Existe livre-arbítrio? Como a linguagem se relaciona com a realidade? Como o conhecimento é possível? O que podemos conhecer? Quais são os limites da ciência? Quais os critérios da verdade? E os critérios da moral? O que faz com que algumas ações sejam moralmente boas ou más? Qual é a coisa certa a fazer? Você provavelmente já se fez algumas dessas perguntas em algum momento da sua vida. Estas são as últimas perguntas com as quais deparamos se continuarmos nos questionando indefinidamente: “Por quê?”.
Essas perguntas não pertencem a uma ciência em particular, ao domínio exclusivo de alguma área especializada do saber, mas afligem todos aqueles que em algum momento deixam de se contentar com a banalidade e a futilidade das coisas cotidianas, do senso comum, das respostas prontas. Há 25 séculos, surgiu na Grécia uma tradição de pensamento que desde então se dedica racionalmente a estas questões. Filósofos desenvolvem-nas de uma forma disciplinada e sistemática, com o objetivo não apenas de respondê-las, mas também de entender exatamente o que está sendo pedido, em primeiro lugar. Eles descobrem pressupostos ocultos e refletem criticamente sobre as razões de nossas crenças e ações, a fim de compreender o mundo e o nosso lugar nele. A esta intensa atividade intelectual é que chamamos “filosofia”.
Philosophy (anagrama)Podemos ainda definir a filosofia etimologicamente. Nesse sentido, o termo “filosofia” é composto por duas palavras gregas e significa literalmente “amor à sabedoria” (philos = amor, amizade; sophia = sabedoria, sapiência). Por fim, podemos definir a filosofia comparativamente, estabelecendo uma relação entre ela e outros tipos de saber e indicando em que ponto ela se distingue deles. Em suma, a filosofia difere da mitologia e da religião por sua ênfase em métodos e argumentos racionais; e difere da ciência moderna pela pouca importância que atribui e pelo pouco uso que faz de experimentos e observações empíricas, isto é, por geralmente não recorrer a procedimentos empiricamente verificáveis em suas investigações.
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NOTA:


Penso que essa irritante prolixidade para definir filosofia acontece porque aqui no Brasil somos muito influenciados pela tradição continental de filosofia contemporânea. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde a tradição analítica é mais forte e mais presente, o paradigma é outro. Na página inicial do Departamento de Filosofia da Universidade Harvard, por exemplo, dois grandes botões direcionam os visitantes a textos muito curtos: What is Philosophy? (O que é filosofia?) e Why study Philosophy? (Por que estudar filosofia?). Como no artigo que publiquei acima, o Departamento de Filosofia de Harvard, considerado um dos melhores do mundo, explica a definição de filosofia de forma clara, direta e sucinta, de modo que qualquer leigo possa compreender muito rapidamente o que se faz ali naquele departamento.
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“(…) De modo que, se os homens filosofaram para libertar-se da ignorância, é evidente que buscavam o conhecimento unicamente em vista do saber e não por alguma utilidade prática. E o modo como as coisas se desenvolveram o demonstra: quando já se possuía praticamente tudo o de que se necessitava para a vida e também para o conforto e para o bem estar, então se começou a buscar essa forma de conhecimento. É evidente, portanto, que não a buscamos por nenhuma vantagem que lhe seja estranha; e, mais ainda, é evidente que, como chamamos livre o homem que é fim para si mesmo e não está submetido aos outros, assim só esta ciência, dentre todas as outras, é chamada livre, pois só ela é fim para si mesma.”
[Aristóteles, Metafísica A, 982 b, 19-27]





fonte:

http://charlezine.com.br/breve-definicao-de-filosofia/ 

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